De entre as muitas questões que o complexo fenómeno cultural conhecido como “literatura de cordel” coloca ao investigador, a primeira é sem dúvida a da justeza ou não dessa designação já consagrada pelo uso. As discrepâncias na definição deste universo editorial acentuam-se hoje com a inserção no seu conceito, a par das formas que seguem a tradição do “cordel” (folhetos e folhas volantes, com configurações muito diversas), de obras que, mais ou menos acidentalmente, por razões de analogia temática e material, se incluem neste tipo de literatura. Enquanto objecto comunicacional e artístico difundido através da comunicação impressa, a obra de cordel suscita múltiplos planos de análise: a permeabilidade entre oralidade e escrita; as contingências materiais da edição; os números astronómicos das tiragens; a dimensão compósita do público, a que corresponde, nos objectos impressos, um mosaico ideo-temático e estilístico; a diversidade dos locais de venda desse material; a análise interna ou poética dos textos, passível de esclarecer aspectos de natureza genética e intertextual; a análise externa dos impressos que, assumidos como produtos de consumo, ostentam um cuidado especial ao nível da semiótica gráfica, em especial no que respeita à relevância da capa ou da primeira folha e ao diálogo entre o título e a gravura. A estas e outras perguntas procura responder ou apenas aludir, no essencial, a presente obra, que não tem senão a pretensão de preencher entre nós um vazio editorial quase absoluto sobre uma importante prática cultural e literária polifónica, acusada por muitos de pouco nobre e por isso quase sempre relegada para a órbita do que se costuma considerar Literatura. A literatura de cordel é uma forma cultural híbrida e intrincada que resiste às interpretações fáceis que a vêem como um género rígido e substantivo, simples literatura de evasão ou literatura de rua. Apesar das hesitações e indefinições de diverso tipo que lhe são características, esta literatura assume um importante papel na codificação das aquisições comunitárias, uma função conjuntamente literária e identitária. Cada folha, folhinha, folheto ou livrinho de cordel permite, em última instância, descobrir a vivência popular (no seu sentido mais amplo) e o discurso que transporta essa outra visão ou teoria social do mundo. Situada sempre “à margem” ou “na margem” do corpus literário institucionalizado, a literatura de cordel ocupava, na verdade, um lugar bem central, radicada no património comum e no imaginário colectivo, permanecendo ainda hoje como terreno fértil a descobrir na sua riqueza, variedade e complexidade.
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